No supermercado. Na loja de roupa. Na academia. No bar. No metrô. No aeroporto internacional. As vozes de Carlos Baute e Marta Sánchez estão em todo lugar.
Desde o começo do ano, a música-chiclete "Colgando en tus manos" se mantém no topo da lista das canções mais tocadas da Espanha. Feito poucas vezes visto na Península Ibérica.
"Colgando en tus manos" é aquele tipo de música para a qual não se dá a mínima quando se escuta pela primeira vez. Com a repetição insistente, porém, acaba-se rendido.
E ouso dizer que, depois dessa lavagem cerebral, não é raro que a pessoa se pegue cantarolando a canção por aí. Sem vergonha ou censura.
Mas o que tem a música de tão especial?
Juro que não sei.
Comecemos pelos cantores: são losers completos. Ou melhor, eram.
Carlos Baute é um venezuelano que fazia relativo sucesso em seu país. Enquanto muita gente fugia do governo bolivariano de Hugo Chávez, ele foi a público dizer que jamais abandonaria sua terra. Lorota. Assim que pode, pegou um avião e se fixou na Espanha. Os venezuelanos nunca o perdoaram.
É um típico artista construído pela indústria do entretenimento. O cabelo é liso demais e loiro demais. Os dentes são brancos demais. O sorriso chega a incomodar. A pinta é de galã de novela adolescente. Chegou aos 35 anos, mas faz de tudo para parecer que tem 18. Recentemente ganhou um programa na TV espanhola.
Antes de pedir a ajuda de Marta Sánchez, Carlos Baute gravou "Colgando en tus manos" sozinho. Produziu vídeo no leste europeu e tudo. Obviamente a versão inicial não decolou.
Marta Sánchez é uma veterana. Tem 43 anos, mas pelo excesso de cirurgias plásticas, que contradição, parece estar perto da casa dos 60. Ela fez sucesso nos anos 90, mas aos poucos foi caindo no ostracismo. Sua estratégia de reposicionamento de marca foi gravar duetos, pegar carona no sucesso alheio.
Gravou com Andrea Boccelli e com Gloria Gaynor. Regravou música velha com Ricardo Arjona. Cantou até com o guitarrista dos Guns n' Roses. Três meses atrás, eu a vi no show do porto-riquenho Luis Fonsi em Madrid.
Não bastassem os intérpretes, a música em si também não é lá grande coisa. "Colgando en tus manos" começa lentinha, com um violão meio blasé, e vai crescendo aos poucos. No meio da salada de sotaques, o refrão fala de poemas escritos de próprio punho, canções mandadas (imagino) pela internet, jantares em Marbella (uma espécie de Guarujá da Espanha) e viagens à Venezuela.
Meu ouvido não é muito musical, como se sabe, mas consigo identificar no refrão de "Colgando en tus manos" uma guitarra no melhor estilo anos 80 e até um chocalho bossinha.
É um lixo. Mas não se pode resistir.
Cuidado, cuidado... Que mi corazón está colgando en tus manos.
Ricardo põe legenda na foto e no vídeo:
Na foto, o cantor venezuelano Carlos Baute aparece, em outdoor, numa das principais ruas comerciais de Madrid. Poluição visual. No vídeo, o clipe da fatídica "Colgando en tus manos".
Ricardo conta ao pé do ouvido:
Eu imaginava que os artistas latino-americanos não conseguissem fazer sucesso na Espanha. Ou pelo sotaque peculiar ou pelo excesso de glicose nas letras. Os espanhóis não estão nem aí para isso.
Ricardo dá o caminho das pedras:
O respeitado jornal "El País" publicou uma reportagem na semana passada tentanto explicar o sucesso de "Colgando en tus manos". Mas é inexplicável.
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Quem tem medo da cuca?
Há 7 anos