15 de fevereiro de 2016

25 de agosto de 2009

O hit do ano / El éxito musical del año

No supermercado. Na loja de roupa. Na academia. No bar. No metrô. No aeroporto internacional. As vozes de Carlos Baute e Marta Sánchez estão em todo lugar.

Desde o começo do ano, a música-chiclete "Colgando en tus manos" se mantém no topo da lista das canções mais tocadas da Espanha. Feito poucas vezes visto na Península Ibérica.

"Colgando en tus manos" é aquele tipo de música para a qual não se dá a mínima quando se escuta pela primeira vez. Com a repetição insistente, porém, acaba-se rendido.

E ouso dizer que, depois dessa lavagem cerebral, não é raro que a pessoa se pegue cantarolando a canção por aí. Sem vergonha ou censura.

Mas o que tem a música de tão especial?

Juro que não sei.

Comecemos pelos cantores: são losers completos. Ou melhor, eram.

Carlos Baute é um venezuelano que fazia relativo sucesso em seu país. Enquanto muita gente fugia do governo bolivariano de Hugo Chávez, ele foi a público dizer que jamais abandonaria sua terra. Lorota. Assim que pode, pegou um avião e se fixou na Espanha. Os venezuelanos nunca o perdoaram.

É um típico artista construído pela indústria do entretenimento. O cabelo é liso demais e loiro demais. Os dentes são brancos demais. O sorriso chega a incomodar. A pinta é de galã de novela adolescente. Chegou aos 35 anos, mas faz de tudo para parecer que tem 18. Recentemente ganhou um programa na TV espanhola.

Antes de pedir a ajuda de Marta Sánchez, Carlos Baute gravou "Colgando en tus manos" sozinho. Produziu vídeo no leste europeu e tudo. Obviamente a versão inicial não decolou.

Marta Sánchez é uma veterana. Tem 43 anos, mas pelo excesso de cirurgias plásticas, que contradição, parece estar perto da casa dos 60. Ela fez sucesso nos anos 90, mas aos poucos foi caindo no ostracismo. Sua estratégia de reposicionamento de marca foi gravar duetos, pegar carona no sucesso alheio.

Gravou com Andrea Boccelli e com Gloria Gaynor. Regravou música velha com Ricardo Arjona. Cantou até com o guitarrista dos Guns n' Roses. Três meses atrás, eu a vi no show do porto-riquenho Luis Fonsi em Madrid.



Não bastassem os intérpretes, a música em si também não é lá grande coisa. "Colgando en tus manos" começa lentinha, com um violão meio blasé, e vai crescendo aos poucos. No meio da salada de sotaques, o refrão fala de poemas escritos de próprio punho, canções mandadas (imagino) pela internet, jantares em Marbella (uma espécie de Guarujá da Espanha) e viagens à Venezuela.

Meu ouvido não é muito musical, como se sabe, mas consigo identificar no refrão de "Colgando en tus manos" uma guitarra no melhor estilo anos 80 e até um chocalho bossinha.

É um lixo. Mas não se pode resistir.

Cuidado, cuidado... Que mi corazón está colgando en tus manos.

Ricardo põe legenda na foto e no vídeo:
Na foto, o cantor venezuelano Carlos Baute aparece, em outdoor, numa das principais ruas comerciais de Madrid. Poluição visual. No vídeo, o clipe da fatídica "Colgando en tus manos".

Ricardo conta ao pé do ouvido:
Eu imaginava que os artistas latino-americanos não conseguissem fazer sucesso na Espanha. Ou pelo sotaque peculiar ou pelo excesso de glicose nas letras. Os espanhóis não estão nem aí para isso.

Ricardo dá o caminho das pedras:
O respeitado jornal "El País" publicou uma reportagem na semana passada tentanto explicar o sucesso de "Colgando en tus manos". Mas é inexplicável.
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20 de agosto de 2009

Cadê a grana? / Dame la pasta

Um estudo recém-divulgado diz que Madrid é a 26ª cidade mais cara do mundo. Faz sentido.

Uma salada grande (e sem gosto) do McDonald’s sai por 6 euros (18 reais). Um almoço num restaurante qualquer não fica por menos de 10 euros (30 reais). Copiar três chaves de casa custa consideráveis 20 euros (60 reais).

Mas nem tudo é “facada” na capital espanhola.

O transporte público de Madrid é um dos mais baratos da Europa. O bilhete de metrô ou de ônibus para dez viagens vale 7,40 euros (uns 22 reais), sem contar que há bilhetes ainda mais econômicos de uma semana e um mês. Os jornais custam, em média, pouco mais de 1 euro (3 reais). Num supermercado barato, a bandeja de seis iogurtes sai por 1 euro.

Na época das rebajas, as roupas saem quase graça. Já vi calças jeans —de boa qualidade— por 10 euros (30 reais). Com as companhias aéreas low-cost, pode-se viajar para Portugal (ida e volta) por 20 euros (60 reais).

Madrid é cara, mas é barata.

Cara para quem ganha em reais, barata para quem ganha em euros.

Ricardo põe legenda na foto:
Essa foi a conta de um jantar em Madrid. Uma salada e um refresco ficaram em 30 reais. Ainda bem que o periódico me dava "tique".

Ricardo conta ao pé do ouvido:
As cidades mais caras do mundo, segundo o estudo do banco UBS, são Oslo, Zurich, Copenhagen, Genebra, Tókio, Nova York, Helsinki, Viena, Paris e Dublin. Barcelona (22ª) é mais cara que Madrid (26ª), de acordo com a pesquisa. São Paulo (42ª) é mais cara que o Rio (48ª). Caracas aparece como uma das mais caras (12ª), mas só pode ser por causa do câmbio oficial do dólar, engessado pelo governo Chávez, que é bem diferente do dólar real do mercado negro.

Ricardo dá o caminho das pedras:
Aqui está, na íntegra, o estudo do UBS.
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13 de agosto de 2009

Nós, os "cariocas" / Nosotros, los "cariocas"

Os espanhóis continuam barrando brasileiros no aeroporto internacional de Madrid, mas, mesmo assim, ainda são fãs incondicionais do nosso povo e do nosso país.

Se antes, ao ser apresentados a um brasileiro, naturalmente reagiam falando de futebol e Pelé, agora os comentários são invariavelmente sobre o nosso presidente da República. “¿Y Lula?” foi a pergunta que mais ouvi nos seis meses em que estive na Espanha.

A essa pergunta genérica e quase automática, os espanhóis esperam um discurso emocionado sobre a preocupação do governo petista com os pobres. É uma expectativa que se vê nos olhos. Os europeus não disfarçam a fascinação que sentem pelo operário e sindicalista que se tornou o chefe do maior país latino-americano.

O jornal El País, por exemplo, tem mais que interesse pelo Brasil. Chega a ser um verdadeiro transtorno obsessivo-compulsivo. A cada semana saem três ou quatro notícias sobre o nosso país. Qualquer autoridade brasileira de visita pela Espanha ganha uma entrevista de página inteira, mesmo que não tenha novidade nenhuma a dizer. Se tem a ver com o Brasil, é notícia automaticamente.

Quando o Comitê Olímpico Internacional esteve em Madrid para avaliar se a cidade tem condições para sediar as Olimpíadas de 2016, ouvi de muita gente que a candidata que mais tem chances de vencer é o Rio. Mas e a violência? A corrupção? A falta de infra-estrutura? Para os espanhóis, nenhuma deficiência, por pior que seja, consegue superar a alegria dos brasileiros. É o que basta para levar uma Olimpíada para o Brasil.

Isso, claro, tem muito a ver com os estereótipos plantados pelo Brasil no exterior sobre si mesmo. Já vi espanhol perplexo ao ouvir que pessoalmente no me gusta el fútbol, não sei bailar la samba e tampoco levo jeito para luchar la capoeira.

Os espanhóis conhecem a caipirinha, mas muitos acham que carioca é sinônimo de brasileño. Não se assuste se ler em algum lugar que Lula é el presidente carioca.

Os espanhóis garantem que amam a música brasileira, mas muitos não sabem enumerar ninguém além de Gilberto Gil e Caetano Veloso.

Os espanhóis dizem que morrem de vontade de conhecer Salvador de Bahía, mas muitos não sabem que existe um local chamado São Paulo, que por acaso vem a ser a maior cidade do país.

Os espanhóis sabem que garota significa chica (por causa da música Chica de Ipanema), mas muitos acham que a língua que se fala no Brasil é o brasileño. E olha que Portugal está bem ali do lado...

Ricardo põe legenda na foto:
O brasileiríssimo Pelé é garoto-propaganda do Santander nessa publicidade vista numa estação de metrô de Madrid. Os clientes que transferem a conta-salário para o banco podem ganhar um dia com “o rei”.

Ricardo conta ao pé do ouvido:
Sempre ávido pelo Brasil, o jornal El País entrevistou o nosso ministro da Justiça. Tenho sérias dúvidas se um jornal brasileiro daria uma página inteira para o ministro da Justiça da Espanha (que lá se chama ministro do Interior)... O ministro Tarso Genro falou que o apoio do presidente Lula é o handicap da ministra Dilma Rousseff nas próximas eleições para a Presidência. O jornalista espanhol não sabia que no Brasil, sabe-se lá o motivo, handicap é uma coisa positiva. No resto do mundo, como é o correto, handicap é algo negativo. Resultado: o El País cometeu uma gafe internacional ao publicar que Lula vai atrapalhar Dilma, e não ajudá-la.

Ricardo dá o caminho das pedras:
Veja a reportagem furada do El País e a subsequente queixa do ministro Tarso Genro.
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11 de agosto de 2009

Para alegria das empreiteiras / El caos de la ciudad

Que linda é Madrid! Mas não deixem de me avisar quando encontrarem o tesouro...

A ironia veio do ator Danny De Vito quando esteve em Madrid alguns anos atrás para o lançamento de um filme. Na época, a cidade estava de cabeça para baixo, tomada por centenas de obras públicas.

A situação hoje não é muito diferente. Quem caminha por Madrid se sente em plena trincheira, no meio da linha de tiro. É quase impossível andar pela cidade sem deparar com tapumes no meio do caminho.

O governo está construindo terminais de ônibus e estacionamentos subterrâneos, aumentando calçadas, transformando ruas para carros em ruas para pedestres, ampliando as linhas do metrô... São cerca de 250 obras em curso.

O quebra-quebra ocorre em locais nevrálgicos da cidade, como as calles de Serrano e de Fuencarral, as plazas de Colón, Castilla e Callao, o paseo de los Recoletos e a Puerta del Sol.

Peguemos como exemplo o quilômetro zero da cidade. Além dos tapumes, dos tratores, dos pedreiros e de montes de areia, a Puerta del Sol está cheia de policiais patrulhando a área, gente distribuindo folhetos de compro ouro, carteristas atentos aos turistas que tiram fotos distraídos, madrilenhos esperando amigos embaixo da famosa estátua do urso, funcionários se dirigindo à sede do governo da Comunidade de Madrid... Passar, hoje, pela Puerta del Sol é como competir numa corrida com obstáculos.

Apesar da poeira, do barulho e do trânsito (relativamente) caótico, os madrilenhos não reclamam. E a imprensa também não. Têm a consciência de que são obras que vão deixar a cidade melhor.

Ricardo põe legenda na foto:
As obras praticamente esconderam a famosa estatua ecuestre de Carlos III na Puerta del Sol. Nessa praça, bem no coração de Madrid, as vias para os pedestres estão sendo aumentadas, saídas do metrô estão sendo reformadas e uma estação de trens acaba de ser construída.

Ricardo conta ao pé do ouvido:
"Já encontramos o tesouro", disse na semana passada o prefeito Alberto Ruiz-Gallardón, referindo-se à brincadeira citada no começo deste texto. "São os madrilenhos, sem dúvida nenhuma." Político é político.

Ricardo dá o caminho das pedras:
Neste mapa animado do site Elmundo.es, pode-se ver em vídeo quais são as principais obras em curso na capital espanhola.
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7 de agosto de 2009

As velhas pesetas / Las viejas pesetas

Os espanhóis gostam de dizer que os portugueses são nostálgicos, vivem presos à sua história de glória, são avessos à modernidade... Pode até ser verdade, mas esses mesmos espanhóis que apontam o dedo para os vizinhos também têm lá uma pontinha de apego ao passado.

O euro é a moeda corrente da Espanha desde 2002, mas até hoje tem muito espanhol que se refere a preços e valores utilizando a peseta, a velha moeda do país.

Mas não é como no Brasil, onde quem diz "10.000 réis", "10 contos" ou "10 cruzeiros" obviamente se refere a 10 reais. Na Espanha, ao contrário, não é uma mera questão de vocabulário. Se uma pessoa diz "160.000 pesetas", por exemplo, ela está se referindo à quantia de 900 euros.

Em 2002, quando a antiga moeda deixou de valer, 166 pesetas equivaliam a 1 euro.

Ainda hoje, sete anos depois da morte das pesetas, o Banco de España recebe pessoas querendo trocar suas notas velhas por euros. Aquelas mesmas 166 pesetas ainda equivalem a 1 euro.

No mês de junho, os espanhóis trocaram 332,7 milhões de pesetas por 2 milhões de euros. O Banco de España estima que ainda haja 1,7 bilhão de pesetas no país.

Conclusão: os espanhóis guardam dinheiro debaixo do colchão! E depois dizem que quem vive no passado são os pobres dos portugueses...

Ricardo põe legenda na foto:
Se colocar cartaz, terá de pagar uma multa de 500 pesetas! A mensagem foi vista num muro de Sevilha.

Ricardo conta ao pé do ouvido:
Minha última compra no supermercado em Madrid ficou em 15,40 euros. Para facilitar a vida dos nostálgicos, a nota fiscal trouxe o total também en pesetas: 2.562. A propósito, a peseta foi criada em 1869. Antes dela, a moeda da Espanha era o escudo espanhol.

Ricardo dá o caminho das pedras:
Quer saber quanto valem as suas pesetas? Faça as contas nesta calculadora.
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6 de agosto de 2009

A gangue da marcha à ré / Los aluniceros

Pelo menos uma vez por semana os jornais de Madrid noticiam algum caso de alunizaje na cidade.

É o crime em que os ladrões usam um carro para invadir uma loja e levar mercadorias de valor. De ré, eles aceleram o veículo contra a vitrine, estilhaçam o vidro e entram com facilidade no estabelecimento. Vão de ré porque dessa forma sofrem menos impacto.

Em São Paulo, esse tipo de quadrilha é conhecido como "gangue da marcha à ré".

Segundo as estatísticas da polícia, foram registrados 116 casos de alunizaje ao longo deste ano na região metropolitana de Madrid. Ou seja, um roubo a cada dois dias.

Os alvos preferenciais dos ladrões são as boutiques de grife e as joalherias. Eles atacam principalmente de madrugada e no meio da tarde, quando as lojas estão fechadas para a famosa siesta.

Na tentativa de se proteger, os lojistas têm pedido que orelhões e árvores sejam colocados bem na frente de suas vitrines, bloqueando assim o caminho dos carros dos bandidos.

Vejamos a coisa pelo lado positivo. Os aluniceros e os carteristas (batedores de carteira) são os deliquentes que mais perturbam a paz de Madrid. Melhor isso que sequestro e assalto a mão armada, ¿no es cierto?

Ricardo conta ao pé do ouvido:
Alunizaje significa "aterrissagem na Lua" (da mesma forma que aterrizaje é "aterrissagem na Terra"). O crime ganhou esse apelido porque o carro dos assaltantes entra na loja em questão de ré, da mesma forma que os foguetes espaciais aterrissam na Lua.

Ricardo põe legenda na foto:
Numa manhã da semana passada, quando ia para o jornal, deparei com essa cena. O banco que fica bem atrás do meu prédio foi invadido por uma BMW vermelha. Os aluniceros conseguiram fugir com algum dinheiro. Até comecei a apurar a história, mas no local já estava um colega do meu jornal...

Ricardo dá o caminho das pedras:
Aqui está o vídeo sobre o assalto ao banco. Note que, nesse caso, o carro não foi de ré.
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29 de julho de 2009

Shop till you drop

Estamos na época ideal para comprar até nao poder mais. Julho é o mês das famosas rebajas na Espanha e no resto da Europa.

Sao promoçoes que deixam ainda mais loucos os compradores compulsivos. Produtos --principalmente roupas-- que antes eram apenas "bons" e "bonitos" tornam-se também irresistivelmente "baratos". Os descontos chegam a 75%.

Tênis de marca custam 35 euros. Casacos pesados e calças jeans, 15 euros. Camisas de manga comprida saem por 5. Camisetas, até por 3 euros.

Mesmo com a famigerada crise, as lojas de Madrid ficam cheias e nas ruas só se vê gente com sacolas na mao.

Existe uma lei nacional que regula as rebajas na Espanha. E ela manda que os descontos se apliquem sobre os preços reais: nao há aquele velho golpe de jogar o preço lá em cima antes de aplicar o desconto. E que as peças nao tenham defeito: a liquidaçao nao é truque para se livrar das peças encalhadas.

Além de julho, há rebajas também em fevereiro. Segundo a lei, a primeira temporada de promoçoes deve ocorrer al principio de año e a outra, en torno al período estival de vacaciones.

Em fevereiro, ficam baratas as roupas de frio. Em julho, as de verao. Prepare o cartao de crédito.

Ricardo põe legenda na foto:
A vitrine da loja de departamento El Corte Inglés anuncia suas rebajas. O garoto-propaganda é o cantor brega venezuelano Carlos Baute.

Ricardo conta ao pé do ouvido:
Os preços sao tao baixos na Espanha que sao altas as chances de você acabar comprando, por impulso, coisas de que nao precisa ou que nunca vai usar no Brasil.

Ricardo dá o caminho das pedras:
Ir a lojas de departamento como Zara e H&M vira passeio turístico para a tarde inteira. Coincidência ou nao, há sempre uma Zara ao lado de uma H&M. Ou vice-versa.
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22 de julho de 2009

O espanhol das arábias / El castellano de las arabias

Quem cruza o estreito de Gibraltar e chega ao norte da África entra em outro mundo. Falo especificamente de Marrakech, em Marrocos.

As mulheres se cobrem de véus dos pés à cabeça, os homens deixam a barba crescer apenas embaixo da mandíbula, os camelos estão em todos os lados, os microfones das mesquitas chamam à oração várias vezes ao longo do dia, comprar qualquer coisa significa pechinchar até o último centavo/saliva/resto de energia, atravessar a rua é praticamente um ato suicida, o couscous está obrigatoriamente em todos os restaurantes, os encantadores de najas tocam suas flautas no meio da praça...

Mas no tradicional mercado de Marrakech, o mesmo onde se pechincha até o último centavo/saliva/resto de energia, os vendedores falam espanhol. E muitíssimo bem.

Mas em Marrocos não se fala árabe? Sim. E também não se fala francês? Oui, oui.

É que Marrakech está sempre tomada por turistas espanhóis. A famosa cidade marroquina fica a menos de duas horas de voo de Madrid. Os voos são baratos, uns 100 euros ida e volta.

Como hábeis comerciantes, os árabes usam todas as técnicas para fazer o cliente comprar um lenço colorido, uma sandália de couro, uma prato de cerâmica, um chaveiro de camelo, uma camiseta com as cores da bandeira marroquina, uma tatuagem de henna, um copo de suco de laranja feito na hora...

Falar espanhol é uma dessas técnicas.

A turista que aparenta ser espanhola é carinhosamente chamada pelos vendedores de guapa ou María José. E se ela esclarece em castelhano que não é bem espanhola, o vendedor não desiste. Com um sorriso no rosto, insiste: ¿México? ¿Guadalajara? ¿Gripe del cerdo?

Ricardo põe legenda na foto:
A praça central de Marrakech, onde fica o famoso mercado, numa vista noturna.

Ricardo conta ao pé do ouvido:
Quem não sabe espanhol também consegue pechinchar tranquilamente no mercado de Marrakech. Os vendedores têm suas calculadoras para que ambas as partes apresentem aí suas propostas e contra-propostas. Os números são tão mais importantes que o idioma que juro que vi uma amiga negociando preço nesse mercado com um vendedor... mudo!

Ricardo dá o caminho das pedras:
Este vídeo dá uma boa ideia de Marrakech.
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21 de julho de 2009

O chinês do mercadinho / El chino del mercadito

Sabe-se lá por quê, nove em cada dez padarias do Rio de Janeiro pertencem a um português. Em Madrid, o equivalente ao "português da padaria" é o "chinês do mercadinho".

A cidade está cheia de mercadinhos com placas em que se leem alimentación e frutos secos. São estabelecimentos meio precários, não muito higiênicos e pouco iluminados que vendem de salsichão a papel higiênico, de frutos do mar enlatados a envelope de carta, de vinho tinto a cigarro.

A vantagem é que ficam abertos depois que os supermercados fecham.

No caixa, invariavelmente, está o dono do estabelecimento: um chinês, acompanhado de sua mulher chinesa e de seus filhos chineses, todos assistindo a algum filme chinês bizarro num laptop chinês ligado ao lado da caixa registradora.

Achar umas fatias de queijo no refrigerador do mercadinho, por exemplo, é tarefa complicada. Para começar, é um refrigerador vertical, daqueles de expor refrigerante e cerveja no supermercado. E o pacote de queijo está escondido nessas prateleiras frias (mas não muito) no meio de salames, picolés, presuntos, iogurtes e sanduíches prontos.

Os chinos, como são carinhosamente (sic) chamados (tanto os donos como os mercadinhos), são a salvação quando bate aquela fome às 11 da noite. Ou quando as bebidas acabam bem no meio da festa no fim de semana.

Os chineses dos mercadinhos se esforçam para ser simpáticos. Assim que alguém entra no local, o dono dá as boas-vindas com um hola mecânico. O melhor é quando ele diz o valor a ser pago: Cuatlo eulos con cualenta céntimos.

Chino é chino em qualquer lugar do mundo.

Ricardo põe legenda na foto:
Um dos milhares de chinos de Madrid.

Ricardo conta ao pé do ouvido:
O chino não vai querer te vender bebida alcoólica às 10 da noite. É que a venda desse tipo de produto está proibida fora de bares e restaurantes quando cai a noite. Mas se você insistir um pouco, o chino acaba te vendendo a bebida. Mas ele vai te pedir que, por favor, esconda a garrafa dentro da mochila por causa dos policiais que garantem a ordem pública nas ruas.

Ricardo dá o caminho das pedras:
Os chineses também são vendedores ambulantes de cerveja na noite madrilenha.
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