29 de junho de 2009

Espanha, uma torre de Babel / España, una torre de Babel

Os sotaques podem mudar de uma região para outra, mas em toda a minha Minas Gerais natal se fala um único idioma: o mineirês, uai. A Espanha, ao contrário, é uma verdadeira torre de Babel. E é menor que MG.

O espanhol, idioma oficial do país, vive com quatro línguas co-oficiales. Na Espanha também se falam o catalão, o galego, o basco e o aranês.

Nunca mencionaram isso no seu cursinho de espanhol, no es cierto? No meu tampoco.

Antes de ser o país que é hoje, a Espanha estava dividida entre vários territórios. Quem os unificou --depois de expulsar os muçulmanos da Península Ibérica-- foram Isabel de Castela e Fernando de Aragão, os "reis católicos", no final do século 15.

As línguas sobreviveram.

O catalão se fala na região de Barcelona. É uma mistura de espanhol, italiano, francês e --por que não?-- português. Muito perto de você, um dos slogans do McDonald's, virou Molt aprop teu na Catalunha. A propaganda do Aquário da capital catalã diz que Si no has estat aquí, no has estat a Barcelona.

Nas ilhas Baleares (onde ficam Palma de Mallorca e Ibiza) e em Valência (a terra da famosa paella) falam-se variantes próprias do catalão.

O galego é a língua que se fala na região de Santiago de Compostela, na fronteira com Portugal. É o verdadeiro portunhol.

Um anúncio feito hoje no site do governo da Galicia: O secretario xeral para o Deporte, Xosé Lete, mantivo unha xuntanza co delegado territorial en Ourense para perfilar as necesidades que existen na provincia de instalacións deportivas. Soa familiar, não?

O basco é a língua da região de Bilbao. Como não tem origem no latim, não se parece com nenhum idioma que eu conheço. Um dos jornais do País Basco dá hoje a seguinte notícia: Gaur egin diote autopsia Michael Jackson zenaren gorpuari heriotza zehazki zerk eragin zion argitzeko. Entende?

Quanto ao aranês, bueno... nunca ouvi falar.

As quatro línguas sobreviveram apesar de o General Franco ter tentado exterminá-las. O ditador temia que os idiomas locais de alguma maneira incentivassem o separatismo nessas regiões.

Não quer dizer que em Barcelona só se fale català ou que em Bilbao apenas euskara. Praticamente todo mundo na Espanha tem o espanhol como língua materna ou pelo menos como segunda língua.

Nas escolas de todo o país, o espanhol é a língua oficial. Algumas comunidades autônomas (como os Estados brasileiros), porém, estão tentando rebaixar o espanhol ensinado nos colégios ao status de língua estrangeira e, portanto, com menos carga horária. A polêmica corre solta.

Nos textos oficiais, evita-se o uso da palavra español para referir-se à língua falada pela maioria dos espanhóis. Isso porque o basco, o galego, o catalão e o aranês também são línguas espanholas. Nos textos do governo, usa-se castellano.

O castellano tem esse nome porque é a língua que se falava no reino da católica Isabel de Castela.

Ricardo põe legenda na foto:
No supermercado Eroski, os produtos são etiquetados nas grandes línguas da Espanha. O queijo ralado está escrito, na ordem, em espanhol, basco, catalão e galego. O nome Eroski, como se deduz, tem origem basca.

Ricardo conta ao pé do ouvido:
Se você sabe italiano ou francês, consegue ler em catalão. Agora entender quando eles falam, isso já é outra coisa...

Ricardo dá o caminho das pedras:
Os espanhóis levam com bom humor a diversidade linguística do país. Neste vídeo, o aeromoço impõe o castelhano ao basco, à catalã e ao galego que viajam no avião.
...

22 de junho de 2009

É avião, mas parece ônibus / Peor que autobús

Na Europa proliferam as companhias aéreas de baixo custo, as "low cost". As mais conhecidas na Espanha são Ryanair, Vueling e EasyJet. Nada a ver com o padrão Gol. Barato é barato mesmo.

Um exemplo que vi outro dia: um voo de Madrid ao Porto, ida e volta, por 20 euros. No geral, os preços para as principais cidades europeias ficam entre 40 e 70 euros.

É assim que os alemães passam o fim de semana em Palma de Mallorca. Os ingleses, em Malta. E os franceses, em Sevilha.

Em compensação, que não se espere nada das empresas. Absolutamente nada! Milhas? Ha! Travesseirinho? Ha ha! Um suco de laranja com gelo, por favor? Três vezes ha!

Quer despachar mala? Vai pagar. Quer escolher assento? Vai pagar. Quer comer um sanduichinho? Vai pagar. Quer ler o jornal do dia? Vai pagar. Quer um assento que recline? Nem pagando.

Se não quiser pagar taxa, o passageiro só deve levar uma mala. E que não seja grande nem pesada. E ai de quem se fizer de desentendido...

As empresas têm uma caixinha metálica no portão de embarque para verificar se a bagagem de mão não foge das exigências "low cost". Se a mala entrar no quadradinho, beleza. Mas se não entrar, não embarca mesmo.

É comum ver na fila de embarque passageiros desesperados amassando a roupa para deixar a mochila menor. Ou então vestindo casaco tirado da mala quando no aeroporto o calor beira os 40 graus. Já vi gente transferindo roupa para a bagagem do amigo. E ouvi gaiato dizendo que levaria meia na mão (tipo luva) e cueca na cabeça (tipo gorro). Tudo para burlar a "low cost".

O passageiro "low cost", em razão disso tudo, acaba se tornando um ser meio selvagem. Como não há lugar marcado no avião, as pessoas precisam correr para pegar os melhores assentos. Se em algum momento um passageiro resolve começar a fila para o embarque, mesmo que não haja nem sequer um funcionário da empresa no guichê, um monte de gente corre atrás. Em poucos segundos, se vê uma fila quilométrica na frente do portão. E as pessoas podem passar mais de meia hora ali, de pé, fila de banco.

Não espere aeromoças simpáticas. Nem com cabelos bem cortados. Afinal, para as passagens serem tão baratas, o salário delas deve ser diretamente proporcional. Metade dos passageiros ainda está acomodando suas humildes mochilas nos "compartimentos superiores" e elas já estão advertindo no alto-falante que, se não se sentarem imediatamente, o voo vai atrasar. E gritam mesmo: "Sit down!".

Não duvido que o avião levante voo enquanto os passageiros ainda estão de pé no corredor procurando lugar para guardar a mala.

As compras e as informações são pela internet. Afinal, ter loja implica gastos extras e passagens mais caras. Se quiser mudar um voo, o preço da troca vai ser mais alto que a passagem. Se quiser tirar alguma dúvida pelo telefone, a conversa também pode sair mais cara que o bilhete. O minuto para entrar em contato com a central telefônica da Ryanair, por exemplo, custa mais de R$ 3.

O check-in também é pela internet. Esqueceu de imprimir em casa o cartão de embarque? Então é bom que tenha R$ 60 no bolso para fazer o check-in no aeroporto. E não adianta gritar com a funcionária da "low cost", porque ela grita mais alto que você. Ameaças do tipo "me dá teu nome que eu vou te denunciar ao Procon" não intimidam.

E mandar uma queixa à empresa também é complicado. Eles dizem que não têm e-mail. E que as reclamações só se fazem por fax. Consegue ver uma lata de lixo bem na frente do aparelho de fax da companhia aérea? Eu também.

É fácil viajar barato. Mas pode custar caro.

Ricardo põe legenda na foto:
Nas entrelinhas da caixa metálica da Ryanair que mede o tamnho da mala, consigo ler o seguinte: Se não está satisfeito, passageiro, por que veio?

Ricardo conta ao pé do ouvido:
Recentemente se noticiou aqui que uma "low cost" quer cobrar até pelo uso do banheiro do avião. Dá medo.

Ricardo dá o caminho das pedras:
Estas são imagens reais de um voo "low cost" na Europa. E este é o site da empresa em questão.
...

16 de junho de 2009

Sexo, drogas & bicicletas

Em Amsterdam, existe um canal de água para cada rua. E existem várias pontes sobre cada canal. Os barcos vêm e vão.

As bicicletas estão em todos os lados, rodando ou estacionadas. Os carros não têm vez e os bondes tocam uma sineta antes de arrancar.

Algumas ruas estão sempre cheias de gente. Outras estão sempre vazias. De vez em quando um carro cai num canal. De vez em sempre uma bicicleta cai num canal.

Os sex shops aparecem em cada esquina. Os coffee shops também. Mas --atenção!-- os coffee shops são diferentes das cafeterias. Em todos os lados se vê fumaça de erva.

Nas vitrines da luz vermelha, as moças olham nos olhos do possível cliente e, atrizes canastronas, suspiram "uau!".

Os restaurantes de carne argentina estão na moda. Os croquetes são vendidos em máquinas que funcionam com moedas.

Cada praça (ou plein) tem sua estátua. Os museus são para todos os gostos, de Van Gogh a Anne Frank e de história holandesa a história do sexo.

Dos velhos moinhos de vento, restam dois. O mercado de tulipas surge no coração da cidade para confirmar outro velho clichê.

E a estação central de trem dá as boas vindas a gente do mundo inteiro.

Não pode haver no mundo cidade mais encantadora que Amsterdam.

Ricardo põe legenda na foto:
Um dos dois moinhos que ainda existem dentro de Amsterdam.

Ricardo conta ao pé do ouvido:
Para os portugueses, a cidade se chama Amsterdão.

Ricardo dá o caminho das pedras:
Veja aqui o que se aconselha ao alugar uma bicicleta em Amsterdam.
...

11 de junho de 2009

Às 8 da tarde / A las 8 de la tarde

O relógio tem outro ritmo na Espanha.

Ontem acudí a uma entrevista coletiva na sede da Comunidade de Madrid. Estava marcada para as 12h, mas só começou às 13h. Um jornalista revoltado comentou que, se tivesse sabido desse atraso, teria dormido uma hora a mais...

Quer dizer que para estar num evento ao meio-dia é preciso cair da cama? Para muitos espanhóis, sim...

Me lembro que o corretor que nos alugou o apartamento arregalou os olhos quando sugeri que assinássemos o contrato às 8h. Minha academia só abre às 9h. No jornal onde eu trabalho, ninguém sai para almoçar antes das 14h30.

Os espanhóis dormem tarde. E também acordam tarde. Por isso, o quadrante do relógio aqui está dividido de outra maneira.

A manhã vai das 9h às 15h, mais ou menos. E a tarde, das 15h às 21h.

Aqui se diz, por exemplo, "oito da tarde" para as 20h. E "duas da manhã" para as 14h.

Caso a assessora de imprensa diga que vai ligar para você na primeira hora da manhã, não se preocupe. Não vai ser tão cedo como parece...

Ricardo põe legenda na foto:
Um relógio na Gran Vía, a avenida mais famosa de Madrid.

Ricardo conta ao pé do ouvido:
Depois de um tempo na Espanha, dormir antes das 2h fica quase impossível.

Ricardo dá o caminho das pedras:
Madrid marca a mesma hora de Roma e Estocolmo, mas está uma hora à frente de Lisboa. Veja aqui.
...

2 de junho de 2009

Atenção, turistas! / ¡A turistear!

Nestes quatro meses de turismo intensivo, aprendi algumas lições valiosas para aproveitar mais e ter menos dor de cabeça nas viagens. Compartilho com ustedes os mandamentos do turisteo:

1. Conheça os pontos turísticos da cidade visitada antes de chegar lá. Como? Compre um guia. Traçar uma rota dos lugares e das atrações a visitar poupa muito, mas muito tempo.

2. Antes de reservar um hotel, leia resenhas de hóspedes. As fotos colocadas na internet pelo próprio estabelecimento podem ser capciosas. Um bom site de avaliações é o Trip Advisor.

3. Verifique se a cidade tem visitas guiadas grátis. O grupo New Europe oferece isso em umas dez cidades europeis. E faça esse passeio logo no primeiro dia. Conhecendo de cara as principais atrações, nos dias seguintes você poderá voltar com calma às que tiver considerado mais interessantes.

4. Procure saber se a cidade tem passes de transporte especiais para turistas. Esses passes valem por certo número de dias e dão direito a viagens ilimitadas. Normalmente valem para metrô, trem, bonde e ônibus. São bem econômicos.

5. Leve uma mochila durante os passeios.

6. Dentro dessa mochila carregue água e algo de comer (barra de cereal ou chocolate, por exemplo). Haverá lugares onde simplesmente sem comida. Imagine-se com fome e preso numa fila de três horas para entrar nos museus do Vaticano...

7. Guarde um casaco leve dentro da mochila. E se a temperatura cair repentinamente à noite?

8. Verifique a previsão do tempo para saber se a temperatura cairá repentinamente à noite.

9. Leve também escova de dente e filtro solar na mesma mochila. Fazem falta.

10. Ponha nos pés um tênis confortável. Nada de All Star, sapato ou chinelo. Um calçado inadequado no primeiro dia pode arruinar uma viagem inteira.

11. Ande com o passaporte e a carteira no bolsa da frente da calça. Os batedores de carteira se proliferam melhor em lugares cheios de turistas.

12. Leve o telefone do cartão de crédito anotado num lugar seguro. Se o cartão for roubado (toc toc toc), ele deve ser bloqueado imediatamente.

13. Gostou daquela lembrancinha? Então compre na hora. Se deixar para depois, poderá ser tarde demais. Ou você não terá tempo para voltar à loja ou não saberá refazer o caminho até lá.

14. Carregue a bateria da máquina fotográfica todas as noites, mesmo que ela ainda não esteja fraca. Se você não fizer isso, é batata que a máquina vai ficar sem energia bem no meio do dia.

15. Ligue a cobrar para seus entes queridos no Brasil. Para isso, anote antes o número da Embratel nos diferentes países.

Ricardo põe legenda na foto:
Um guia muito louco mostra o monumento às prostitutas do Distrito da Luz Vermelha de Amsterdam. Passeio guiado grátis!

Ricardo conta ao pé do ouvido:
A maioria das cidades da Europa tem escritorios de atendimento ao turista. Se você ainda não tem um guia, esses são os melhores lugares para obter um bom mapa. Grátis!

Ricardo dá o caminho das pedras:
Quer comprar as passagens aéreas mais baratas? Elas estão em sites como Atrápalo, Rumbo e eDreams. Quase grátis!
...

1 de junho de 2009

Amigos de banheiro / Amigos de aseo

Não é gentileza, é bizarrice.

Quando entram no banheiro, os espanhóis cumprimentam todo mundo que está ali dentro. É um tal de hola para lá, qué tal para cá...

Você até leva susto, achando que conhece o interlocutor. O esforço para tentar lembrar o nome é inútil, porque você realmente não o conhece, nunca trocou meia dúzia de palavras com ele na vida.

Digo que não é gentileza porque, uma vez fora do banheiro, essas mesmas pessoas voltam a se fechar em seus mundos. Dizer hola fora do banheiro? Nem pensar! Que fique claro: banheiro é lugar de socialização, corredor não.

É assim no trabalho, é assim na academia.

E na hora de ir embora do banheiro é a mesmíssima coisa. Hasta luego para todos vocês, meus amigos, que ficam. Que medo!

Ricardo põe legenda na foto:
A indicação dos aseos do jornal El Mundo.

Ricardo conta ao pé do ouvido:
Banheiro em espanhol pode ser aseo, servicio, baño, cuarto de baño, wáter, retrete, lavado...

Ricardo dá o caminho das pedras:
Veja algumas placas de banheiros encontradas nesta temporada.
...