22 de junho de 2009

É avião, mas parece ônibus / Peor que autobús

Na Europa proliferam as companhias aéreas de baixo custo, as "low cost". As mais conhecidas na Espanha são Ryanair, Vueling e EasyJet. Nada a ver com o padrão Gol. Barato é barato mesmo.

Um exemplo que vi outro dia: um voo de Madrid ao Porto, ida e volta, por 20 euros. No geral, os preços para as principais cidades europeias ficam entre 40 e 70 euros.

É assim que os alemães passam o fim de semana em Palma de Mallorca. Os ingleses, em Malta. E os franceses, em Sevilha.

Em compensação, que não se espere nada das empresas. Absolutamente nada! Milhas? Ha! Travesseirinho? Ha ha! Um suco de laranja com gelo, por favor? Três vezes ha!

Quer despachar mala? Vai pagar. Quer escolher assento? Vai pagar. Quer comer um sanduichinho? Vai pagar. Quer ler o jornal do dia? Vai pagar. Quer um assento que recline? Nem pagando.

Se não quiser pagar taxa, o passageiro só deve levar uma mala. E que não seja grande nem pesada. E ai de quem se fizer de desentendido...

As empresas têm uma caixinha metálica no portão de embarque para verificar se a bagagem de mão não foge das exigências "low cost". Se a mala entrar no quadradinho, beleza. Mas se não entrar, não embarca mesmo.

É comum ver na fila de embarque passageiros desesperados amassando a roupa para deixar a mochila menor. Ou então vestindo casaco tirado da mala quando no aeroporto o calor beira os 40 graus. Já vi gente transferindo roupa para a bagagem do amigo. E ouvi gaiato dizendo que levaria meia na mão (tipo luva) e cueca na cabeça (tipo gorro). Tudo para burlar a "low cost".

O passageiro "low cost", em razão disso tudo, acaba se tornando um ser meio selvagem. Como não há lugar marcado no avião, as pessoas precisam correr para pegar os melhores assentos. Se em algum momento um passageiro resolve começar a fila para o embarque, mesmo que não haja nem sequer um funcionário da empresa no guichê, um monte de gente corre atrás. Em poucos segundos, se vê uma fila quilométrica na frente do portão. E as pessoas podem passar mais de meia hora ali, de pé, fila de banco.

Não espere aeromoças simpáticas. Nem com cabelos bem cortados. Afinal, para as passagens serem tão baratas, o salário delas deve ser diretamente proporcional. Metade dos passageiros ainda está acomodando suas humildes mochilas nos "compartimentos superiores" e elas já estão advertindo no alto-falante que, se não se sentarem imediatamente, o voo vai atrasar. E gritam mesmo: "Sit down!".

Não duvido que o avião levante voo enquanto os passageiros ainda estão de pé no corredor procurando lugar para guardar a mala.

As compras e as informações são pela internet. Afinal, ter loja implica gastos extras e passagens mais caras. Se quiser mudar um voo, o preço da troca vai ser mais alto que a passagem. Se quiser tirar alguma dúvida pelo telefone, a conversa também pode sair mais cara que o bilhete. O minuto para entrar em contato com a central telefônica da Ryanair, por exemplo, custa mais de R$ 3.

O check-in também é pela internet. Esqueceu de imprimir em casa o cartão de embarque? Então é bom que tenha R$ 60 no bolso para fazer o check-in no aeroporto. E não adianta gritar com a funcionária da "low cost", porque ela grita mais alto que você. Ameaças do tipo "me dá teu nome que eu vou te denunciar ao Procon" não intimidam.

E mandar uma queixa à empresa também é complicado. Eles dizem que não têm e-mail. E que as reclamações só se fazem por fax. Consegue ver uma lata de lixo bem na frente do aparelho de fax da companhia aérea? Eu também.

É fácil viajar barato. Mas pode custar caro.

Ricardo põe legenda na foto:
Nas entrelinhas da caixa metálica da Ryanair que mede o tamnho da mala, consigo ler o seguinte: Se não está satisfeito, passageiro, por que veio?

Ricardo conta ao pé do ouvido:
Recentemente se noticiou aqui que uma "low cost" quer cobrar até pelo uso do banheiro do avião. Dá medo.

Ricardo dá o caminho das pedras:
Estas são imagens reais de um voo "low cost" na Europa. E este é o site da empresa em questão.
...

7 comentários:

Ilis disse...

Adorei as tuas observações!
:)
bj

Mario disse...

Caraca, isso nunca que ia pegar no Brasil. Se a atendente gritasse, o passageiro berrava no ato -- entre outras diferenças incontáveis... Muito bom relato, grande! Ah, curti muito a entrevista com o Lenine. O que é testarudo?
Abs!

Du, Dudu ou Edu disse...

Descrição perfeita! É ruim mas é bom viajar com eles. Tem ainda os belos horários de saída, numa "agradável" 5 da manhã (vulgo: dormir em Barajas) ou num impossível 3 da tarde (igual=matar trabalho).

Humberto Ilo disse...

Quer mais o quê, pagando 20ão! ;-P
Bom demais o texto — e aquelas seçõezinhas ao fim...
Abç1

Anônimo disse...

Olha, depois do "relacionamento" com a Caixa Econômica Federal pra resgatar FGTS, as moçoilas dessas empresas são minhas melhores amigas de infância! Mas sem brincadeira, fui de Barcelona para Paris por 20 euros a perna. Mais ou menos o preço do busão convencional RJ - SP.

Unknown disse...

Anônimo não, Dudinha. A Varela.

Helder Medeiros disse...

Na altura do Mundial de Futebol da Alemanha eu fiz ou voo Porto para Colonia com cerca de vinte passageiros em pé o voo todo, ou seja, o aviao estava cheio e encheram o corredor.
Foi no dia do jogo Portugal Irão e como os voos estavam atrasados foi a maneira dos adeptos portugueses chegarem à Alemanha a horas.
Por isso voos com passageiros em pé é coisa que a Raynair já faz à muito.