17 de maio de 2009

Um outro espanhol é possível / ¿Qué coño de idioma es éste?

O espanhol da Espanha é uma caixinha de surpresas. A cada dia deparo com palavras e expressões que jamais aprendi nos livros do CCAA ou escutei nas ruas de Buenos Aires.

Um homem qualquer não é um tipo, mas um tío. E uma mulher qualquer, por tabela, é uma tía. Fique tranquila se te chamarem assim. Ser uma tía na Espanha não tem relação com ser velha ou estar encalhada.

Uma "fortuna" é uma pasta, o "trabalho" é o curro, "trabalhar" é currar, uma pessoa "imbecil" é um gilipollas, uma pessoa "legal" é maja, o "mauricinho" e a "patricinha" são respectivamente pijo e pija, uma coisa "sensacional" é guay...

Quando se encontram em situações informais, perguntam ¿Qué pasa? A vontade automática é responder No pasa nada. Resposta errada. ¿Qué pasa? é a mesma coisa que ¿Cómo estás?, ¿Qué tal?...

Ah, o No pasa nada é uma frase que se escuta em cada esquina. Mas em outro sentido. Quer dizer "Não há problema". É o que o espanhol responde quando você pisa no pé dele sem querer ou quando você diz que não tem 30 centavos para emprestar para o cafezinho da máquina.

Se têm algum tipo de surpresa (positiva ou negativa), eles logo gritam ¡Joder!. O fundamental é encher a boca para soltar esse palavrão. Mas, apesar de ser forte, a palavra é banal. Eu traduziria como "uau", "caramba", "nossa" e, em mineirês, "vixe".

Sendo um palavrão, algumas pessoas -- principalmente as tías e os niños -- preferem o eufemismo ¡Jolín! Em português, como bem lembraria o Daniel referindo-se ao Mario, equivaleriam a "p*rra" e "pomba".

Expressões sexuais também faz parte do dia-a-dia. Os homens conversam entre si chamando-se corriqueiramente de macho. Exemplo: ¿Qué pasa, macho? Atenção, não existe a variante macha!

Gostam muito da palavra hombre, que pode ser o "che" dos argentinos, o "meu" dos paulistas e o "cara" dos cariocas. Hombre, no sé que le pasa a este tío... Detalhe imporante: soa esquisito, mas até as mulheres exclamam hombre quando estão de papo com as amigas.

Nos adjetivos, a Espanha é machista. Se uma coisa é muito legal, ela é cojonuda (os cojones, para usar a palavra do dicionário, são os testículos). Mas se uma coisa é péssima, ela é um coñazo (o coño, numa tradução que não choca, é a vagina). Joder, na mesma linha de raciocínio, pode ser substituído por coño num momento de muita ira.

A religião é uma fixação. Se algo não vai bem, o espanhol esbraveja que se caga en la hostia. Mas se uma coisa é boa demais, é de la hostia. O velho joder, se você não quiser ser repetitivo, pode ser trocado por hostia sem nenhum prejuízo de significado. Amém!

Os espanhóis, como bons vizinhos dos portugueses, têm expressões que dizem literalmente uma coisa e que na realidade significam justamente o oposto. Peguemos o caso do pues nada. Quando não sabem exatamente o que falar, os espanhóis ganham tempo e preenchem o silêncio dizendo pues nada. Mas isso não quer dizer que eles não tenham nada a declarar. Muito pelo contrário. Prepare os ouvidos porque, depois desse pues nada, eles vão desandar a falar...

Na mesma linha da contradição vocabular, existe na Espanha a expressão venga. Sim, venga quer dizer "venha". Mas na prática significa "vá". Mais precisamente, usam venga quando querem dizer "então tá bom, agora vamos nos despedir aqui" ou "agora eu preciso ir embora". No telefone principalmente: Muchas gracias por la información. Venga. Hasta luego.

Na hora da despedida, a propósito, hasta luego é a expressão mais usada. E o que há de diferente nisso? Talvez aí esteja um dos pouquíssimos casos em que os espanhóis não falam como escrevem. Eles dizem hasta loogoooo.

Ricardo põe legenda na foto:
A vitrine da loja da Nike na Gran Vía pede aos tíos e tías que aproveitem a promoção.

Ricardo conta ao pé do ouvido:
Quando entrevistei o Fito Páez aqui em Madrid, ele falou coño em uma das respostas. Perguntei se o espanhol da Espanha é tão forte a ponto de influenciar o mais argentino dos músicos. Ele respondeu: "¡Joder, no!". E caiu na gargalhada.

Ricardo dá o caminho das pedras:
Ante a menor dúvida, todo espanhol consulta o diciónario da Real Academia Española. Completo, o dicionário também contém palavras da América Latina.
...

8 comentários:

Helena disse...

Me encantó, tío! Está de puta madre el texto! ;) Entrevistei o Fito Páez aqui em SP no ano passado!

Francisco Martínez disse...

Muy buen post, pero tiene una omisión. As crianças no son niños, sino "peques". Ji ji

Du, Dudu ou Edu disse...

E tem a variação horrível: "me cago en tus muertos", que é bem mais forte que a da hostia. Mas para mim o mais confuso no inicio era o pues nada...

A simplicista... disse...

Oi, lindo! Estou de volta da licença-maternidade e soube há pouco que está do outro lado do Atlântico. Parabéns!
Saudade grande de você, viu?
beijos

Ricardo Westin disse...

Tienes razón, Pancho. Así que suelen decir cosas por el estilo:

el PEQUE acaba de llegar del COLE. y está mirando una PELI en la TELE.

Anônimo disse...

"cojones", "coño" y "carajo", términos introducidos en el Diccionario de la RAE, por mediación de Don Camilo José Cela.

Anônimo disse...

ola por favor eu tive uns problemas num blog e por isso queria saber o que quer dizer coñito

Anônimo disse...

esqueça.....foi engano desculpe.
mas o texto esta fixe.