Os sotaques podem mudar de uma região para outra, mas em toda a minha Minas Gerais natal se fala um único idioma: o mineirês, uai. A Espanha, ao contrário, é uma verdadeira torre de Babel. E é menor que MG.
O espanhol, idioma oficial do país, vive com quatro línguas co-oficiales. Na Espanha também se falam o catalão, o galego, o basco e o aranês.
Nunca mencionaram isso no seu cursinho de espanhol, no es cierto? No meu tampoco.
Antes de ser o país que é hoje, a Espanha estava dividida entre vários territórios. Quem os unificou --depois de expulsar os muçulmanos da Península Ibérica-- foram Isabel de Castela e Fernando de Aragão, os "reis católicos", no final do século 15.
As línguas sobreviveram.
O catalão se fala na região de Barcelona. É uma mistura de espanhol, italiano, francês e --por que não?-- português. Muito perto de você, um dos slogans do McDonald's, virou Molt aprop teu na Catalunha. A propaganda do Aquário da capital catalã diz que Si no has estat aquí, no has estat a Barcelona.
Nas ilhas Baleares (onde ficam Palma de Mallorca e Ibiza) e em Valência (a terra da famosa paella) falam-se variantes próprias do catalão.
O galego é a língua que se fala na região de Santiago de Compostela, na fronteira com Portugal. É o verdadeiro portunhol.
Um anúncio feito hoje no site do governo da Galicia: O secretario xeral para o Deporte, Xosé Lete, mantivo unha xuntanza co delegado territorial en Ourense para perfilar as necesidades que existen na provincia de instalacións deportivas. Soa familiar, não?
O basco é a língua da região de Bilbao. Como não tem origem no latim, não se parece com nenhum idioma que eu conheço. Um dos jornais do País Basco dá hoje a seguinte notícia: Gaur egin diote autopsia Michael Jackson zenaren gorpuari heriotza zehazki zerk eragin zion argitzeko. Entende?
Quanto ao aranês, bueno... nunca ouvi falar.
As quatro línguas sobreviveram apesar de o General Franco ter tentado exterminá-las. O ditador temia que os idiomas locais de alguma maneira incentivassem o separatismo nessas regiões.
Não quer dizer que em Barcelona só se fale català ou que em Bilbao apenas euskara. Praticamente todo mundo na Espanha tem o espanhol como língua materna ou pelo menos como segunda língua.
Nas escolas de todo o país, o espanhol é a língua oficial. Algumas comunidades autônomas (como os Estados brasileiros), porém, estão tentando rebaixar o espanhol ensinado nos colégios ao status de língua estrangeira e, portanto, com menos carga horária. A polêmica corre solta.
Nos textos oficiais, evita-se o uso da palavra español para referir-se à língua falada pela maioria dos espanhóis. Isso porque o basco, o galego, o catalão e o aranês também são línguas espanholas. Nos textos do governo, usa-se castellano.
O castellano tem esse nome porque é a língua que se falava no reino da católica Isabel de Castela.
Ricardo põe legenda na foto:
No supermercado Eroski, os produtos são etiquetados nas grandes línguas da Espanha. O queijo ralado está escrito, na ordem, em espanhol, basco, catalão e galego. O nome Eroski, como se deduz, tem origem basca.
Ricardo conta ao pé do ouvido:
Se você sabe italiano ou francês, consegue ler em catalão. Agora entender quando eles falam, isso já é outra coisa...
Ricardo dá o caminho das pedras:
Os espanhóis levam com bom humor a diversidade linguística do país. Neste vídeo, o aeromoço impõe o castelhano ao basco, à catalã e ao galego que viajam no avião.
...
Quem tem medo da cuca?
Há 7 anos
3 comentários:
Hola...
Gosto muito dos seus textos, adorei o "Um outro espanhol é possível", mas, muito, muito cuidado mesmo, quando diz que o Valenciano deriva do Catalão! Nunca diga isso em Valencia, porque segundo os "expertos" daqui todos derivam de uma língua chamada Romance, e o Valenciano tem registros anteriores ao catalão, assim, que enfim... Você já deve ter entendido a rivalidade também no país.
Hahahahahhah.
Abraços!!
Hola, Bia!
Os valencianos, com razão, tratam de puxar a brasa para a sardinha deles. Mas o dicionário da Real Academia Española define assim o valenciano:
Variedad del catalán, que se usa en gran parte del antiguo reino de Valencia y se siente allí comúnmente como lengua propia.
Para a ira dos nacionalistas valencianos...
Moltes gràcies i fins després!
PS: Quando disse "com razão", quis na realidade dizer "como era de se esperar".
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